Publicam-se neste volume algumas das incursões do multiforme Agostinho [da Silva] pelos domínios do ensaio e da criação literária em prosa, reservando-se outro, dada a sua extensão, para a produção poética. Tal como se verifica a respeito dos anteriores volumes, esta é uma edição provisória, uma vez que o levantamento e estudo do espólio está ainda a processar-se, não sendo raro que traga surpresas aos investigadores envolvidos. […]
Agostinho revela-nos aqui o fruto do seu juvenil interesse pela literatura francesa do século XIX - interesse que acompanha aquele mais visível pelos estudos clássicos -, com dois ensaios de interpretação de Stendhal e Mérimée, primeiro publicados em 1947, quando já se encontrava no Brasil, e que há muito permaneciam inacessíveis ao grande público. Dá-nos, depois, a sua faceta de novelista, com duas singelas obras que, tal como indica, e embora assinadas por um dos seus heterónimos', Mateus-Maria Guadalupe, possuem um cunho memorial e, se bem que velada ou indirectamente, autobiográfico, reflectindo alguns dos aspectos mais subjectivos da sua experiência sul-americana. Nelas o autor levanta algumas pontas do véu da sua subtil relação com o mundo feminino. E não deixa de continuar, nos diálogos de algumas personagens, aquele característico pensamento aberto à mais profunda espiritualidade que temos encontrado nas obras filosóficas e especulativas. Como na primeira novela de Herta. Teresinha. Joan, em que se afirma: «o que o mundo afinal precisa é homem novo que seja, a um só tempo, a um só impulso e a uma só obra, artista, sábio e santo». Ou ainda, em mais uma contribuição para a sua típica teologia paraclética, agora numa vertente antropológica, a afirmação de que «esse núcleo fundamental do artista, essa identidade entre criado e criador», é teologicamente o «Espírito Santo». Ou, ainda, mais dois impressionantes e potentes pensamentos: um primeiro, que define a «santidade» como o «servir, nos planos de Deus, como se fosse Deus»; um segundo, que vê no inexplicável amor de uma mulher por um homem um supremo destino, perante o qual se empequena e mostra vão tudo quanto habitualmente parece mais grandioso no mundo: «Que há afinal de belo para fazer no mundo? Ciência, arte, religião, política? Tudo ilusórias formas de agitar-se»; «Quem sabe se ela não estaria na razão e se o mais belo e o único belo destino, não é esse, o de amar alguém, e arder, para o salvar?» […]
PAULO ALEXANDRE ESTEVES BORGES
OBRAS
13 Stendhal. Mérimée - Dois Ensaios de Interpretação
13 Stendhal
43 Mérimée
73 Herta. Teresinha. Joan - Três Novelas ou Memórias de Mateus-Maria Guadalupe
75 Herta
101 Teresinha
129 Joan
155 «Macaco-Prego» - Lembrança Sul-Americana de Mateus-Maria Guadalupe
157 «Macaco-Prego»
183 Lembranças Sul-Americanas de Mateus-Maria Guadalupe seguidas de Tumulto Seis e Clara Sombra a das Faias
185 Dona Rolinha
211 Ada Carlo
237 Tumulto Seis
263 Clara Sombra a das Faias
ARTIGOS E TEXTOS DISPERSOS
291 O poeta
309 O cadáver
321 Um assassínio
329 O suicídio de Manuel de Mendonça
339 Poesia feminina
343 Nachkrieg
347 Maurois e Turgueniev
351 Populismo
357 Zola
361 A anedota romântica


