Da autoria de José Manuel Miranda Lopes, publicado
sob o pseudónimo de Mário Aldino de Spoleto.
A justificação da obra: "O povo trasmontano,
rude na aparência e em certas maneiras, é dotado dum sentimentalismo muito
delicado; e é cantando e inspirado nos vastíssimos horizontes das suas
montanhas e no misticismo da sua fé, que ele manifesta a delicadeza dos
sentimentos e a agudeza do seu espírito. [...] Quem ler atentamente as paginas
este livrinho vera como ele canta e ama, e como, cantando, exprime o seu amor e
o seu pensamento com uma eloquência, naturalidade e simplicidade
encantadora."
O autor afirma que os Cantares agora
publicados são extraídos de uma obra mais vasta intitulada "Da nossa
terra, Subsídio para etnografia de Trás-os-Montes; assim dividido: Primeira
Parte: Capitula 1, Cantigas de viola; Capítulo II, Cantigas da segada; Capítulo
III, Jogos e folguedos populares. Segunda Parte: Capítulo I, 1º Folklore
religioso; 2º Ensalmos. Capitulo II, 1º Ditados; 2º Outras notas etnográficas."
Os Cantares, coligidos entre 1890 e 1895,
são assim constituídos: Primeira Parte: Capítulo I, Cantigas de viola; Capítulo
II, Cantigas dos Trilhadores (em forma de dialogo);seguindo, depois, três
Suplementos: o nº 1, apresenta cantigas já publicadas por Teófilo Braga, em
1867 e 1909, e outras por Augusto Pires de Lima e Afonso do Paço em 1928, nos
seus cancioneiros, mas que o autor considera conveniente "inclui-las na
presente colectânea, como mataria auxiliar para o estudo histórico da difusão
da poesia do nosso povo, e melhor organização do Cancioneiro Popular de Trás-os-Montes;
o suplemento nº 3 intitulado Cantigas dos Malhadores e Limpadores é completado
com uma explicação coreográfica e sobre a prática da malha e instrumentos
utilizados.
Miranda Lopes refere ainda no fim do prefácio
que publicará noutro volume o folklore religioso, obra que não conseguiu
realizar desconhecendo-se o paradeiro do manuscrito, se é que ainda existe?
Obra atualmente raríssima de encontrar,
mesmo junto dos alfarrabistas é de uma importância crucial a sua republicação
para a salvaguarda e divulgação do nosso património imaterial, justamente numa
época em que se assiste à despersonalização cultural das gentes, em que é
necessário conservar e tentar reconstruir na sua integridade a tradição lírica
popular, não só porque ela faz parte do património nacional mas, sobretudo, porque
é uma das mais importantes raízes culturais da nossa terra.
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